O 17, día de Carvalho Calero

Ricardo Carvalho Calero, mártir e mito

Paulo Fernández Mirás

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Abondosos textos viram a luz tendo como tema principal a obra e vida do senhor Carvalho Calero e, serei eu, nado no ano 1990 quem fale hoje dele 28 anos após a sua morte. Muitas das pessoas que analisaram os trabalhos de Carvalho tiveram a sorte de o conhecer em pessoa e mesmo de tê-lo como professor, como não é o meu caso, não vou descobrir aqui algo novo. Portanto, direi umas breves palavras do que para mim significou e significa este grande vulto da cultura galega.

Carvalho dentro da política galega. Serei conciso, pois quem queira disto saber, entre outras obras, deve ler o livro escrito por Pilar Garcia Negro Ricardo Carvalho Calero: a ciencia ao servizo da nación. É necessário sabermos que Cavalho Calero foi cofundador do Partido Galeguista e que colaborou na elaboração do Anteprojeto de Estatuto de Autonomia para Galiza. Devemos lembrar também que lutou pela República e que foi encarcelado e perseguido por isto durante mais de 15 anos. Isto demonstra, sem lugar a dúvidas, o compromiso do nosso autor com a Galiza e a sua situação política. Há pessoas desde as instituições que tentam apagar a figura de Carvalho por ter “um carácter influenciado por valores idelógicos” desmerecendo os sacrifícios que fez pela nossa terra e pela nossa gente. Pergunto eu, quem carece de ideologia? Desde quando é que uma pessoa merece menos reconhecimento polo seu trabalho por pensar diferente aos demais? Deixo estas perguntas no ar.

Carvalho ensaísta e o processo de normativização. Ricardo Carvalho Calero foi um grande estudioso da língua galega, à que lhe dedicou, como diz Maria Victoria (a sua filha) em várias ocasões, toda a sua vida. Podemos resgatar do seu percurso vital mais de uma vintena de obras de ensaio e inúmeros artigos para revistas (entre elas Grial), nos que se debruça sobre a situação sociolinguística do galego entre outros assuntos. Esta dedicação foi tão grande que em cartas a Francisco Fernández del Riego aparecem mensagens em que assegura botar mais de 12 horas diárias trabalhando para dar a lume as obras Gramática elemental del gallego común e a História da literatura galega, além do tempo que invertia no Colégio Fingoi como diretor e professor. Ademais destas duas obras, de fulcral importância para o galego, e doutras muitas que não posso mencionar por falta de espaço, cumpre destacar o seu papel na normativização da língua galega. O nosso autor foi o que, junto com Piñeiro e Filgueira Valverde, elaborou as primeiras normas da Real Academia Galega (RAG) dos anos 1970 e 1971; estudou as gramáticas clássicas e elaborou (por falta de gramáticos na RAG), alentado por Piñeiro, a sua própria gramática, que foi publicada em Galaxia (chegando a ter até 7 edições). Aliás, também presidiu a Comissão de linguística da Junta em 1980 para elaboração de normas para o galego. Mais uma vez, findo este segundo ponto comentando que foi criticado polo seu achegamento ao movimento reintegracionista e condenado ao ostracismo por grande parte dos seus supostos amigos e companheiros estudiosos. Carvalho sempre foi muito rigoroso com as suas análises e decisões, deveria ser condenado por ser objetivo por ter conclusões diferentes às de outros estudiosos?

Há pessoas desde as instituições que tentam apagar a figura de Carvalho por ter “um carácter influenciado por valores idelógicos” desmerecendo os sacrifícios que fez pela nossa terra e pela nossa gente. Pergunto eu, quem carece de ideologia?

Carvalho como criador literário. Para além das obras de ensaio, pelas que o nosso autor é mais conhecido no âmbito académico, também devemos comentar a sua faceta de polígrafo. Entre poemários, novelas e obras de teatro, Carvalho Calero quase atinge a vintena de obras. Podemos destacar os dous prémios de narrativa pelas novelas A gente da Barreira (Bibliófilos Gallegos no ano 1949) e Scórpio (Prémio da crítica galega no ano 1987), sendo esta primeira a primeira novela de posguerra em galego. Quanto às obras de teatro, chegou a representar alguma delas, como a Farsa das zocas no Colégio Fingoi, mas o género em que Carvalho se sentia mais representado era a poesia (como ele mesmo afirma em Conversas en Compostela com Carballo Calero de Anxo Fernán Vello e Pillado Mayor). A lírica carvalhiana carrega com a sua essência e, lendo os seus poemas, podemos reviver os seus anos pelo Ferrol, os seus namoros ou mesmo a sua religiosidade, todo marcado com o seu especial carimbo. Assim define ele a poesia: “A poesía é unha entidade biolóxica cuia xustificación, como a de todos os seres vivos, está na sua própria existencia; e folga toda lexitimación trascendental. É máis, a poesía non ten outro princípio que o princípio vital, nin outro fin que se manifestar. Hai poesía sana e poesía doente, poesía viva e poesía morta ‒que é o absurdum poético. Non hai unha idea arquetípica da poesía. Cada poema ten un ideal inmanente. Estou com Aristóteles e contra Platón” (recolhido em Lorenzana, na revista Grial 1980:447). Para findar este terceiro ponto, farei de novo umas perguntas que acho pertinentes: Devemos desbotar a obra de Carvalho Calero, a de Ernesto Guerra da Cal ou a de muitas outras escritoras e escritores por não seguir a regras ortográficas estipuladas pelo ILG-RAG? Podemo-nos permitir perder a autores e autoras e as suas obras dentro da nossa literatura?

A sombra de Carvalho cada vez é mais grande, e as tentativas por apagá-lo não dão certo e o único que fazem é criar um mito.

Em resumo, Ricardo Carvalho Calero é uma peça essencial dentro da cultura galega e especialmente da relacionada com a nossa língua. Foi e é mártir pelas decisões tomadas no passado tanto a nível político como linguístico; um claro exemplo disto é o sobrenome do eterno candidato ao Dia das Letras Galegas. Não quero entrar em se deveria ou não optar a este “honor”, mas sim deixar claro que cumpre toda condição para ter sido nomeado há muito tempo. Por último, só resta dizer que a sombra de Carvalho cada vez é mais grande, que as tentativas por apagá-lo não dão certo e que o único que fazem é criar um mito, além de deixar em evidência certos problemas estruturais no nosso sistema literário e as instituições que com ele estão diretamente relacionadas.

Ordes, 17 de novembro.

Paulo Fernández Mirás

Paulo Fernández Mirás

Ordes, 1990. Graduado em filologia inglesa, galega e portuguesa. Namorado da língua e da literatura galega. Escrevo poesia no tempo livre e começo com os meus primeiros artigos em jornais digitais. "Seremos nós mais que nos nossos sonhos?"

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