As eleições, em questão

REPORTAXE | Outras vozes à margem da instituição

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no google
Google+
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp
Compartilhar no telegram
Telegram
Compartilhar no email
Email
Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no google
Compartilhar no whatsapp
Compartilhar no telegram
Compartilhar no email

Coletivo Amanhecer (André Gomes Santos)| Galiza, xullo 2020.  Ainda que semelhe umha obviedade, os resultados dum processo eleitoral nom dependem apenas do agir dos partidos concorrentes. A sociedade civil organizada, os meios de comunicaçom alternativos, organizaçons e colectivos diversos que trabalham no dia a dia sem depender da lógica das urnas também tenhem muito a dizer sobre o desenlace dumha contenda eleitoral. Sem nenhuma pretensom de dar um panorama de total representatividade -pois tal cousa seria impossível-, o Colectivo Amanhecer fijo umha pequena escolma de várias vozes, colectivas ou individuais, dessa Galiza que se move abaixo e à esquerda e observa, maioritariamente com interesse, o que irá acontecer no domingo.

Independentismo e emergência nacional

Na linha de passadas citas eleitorais, o independentismo organizado fijo pública umha análise específica sobre o que significa o capítulo que afrontamos nestes dias. Causa Galiza, num comunicado no que pedia o voto para o BNG, voltou insistir “no facto politicamente positivo, progressivo e necessário de fechar o ciclo de gestom autonómica neofranquista”. De novo nas chaves históricas do independentismo galego, que sempre considerou o PSOE como um resorte fundamental da direita espanhola no país, Causa Galiza mostra-se muito céptica “das possibilidades dumha gestom da administraçom autonómica vertebrada polo PSOE com a colaboraçom do BNG e os partidos da esquerda espanhola num quadro comum de lealdade institucional”.

Porém, a organizaçom entende que um cenário assim “fomentaria as contradiçons no soberanismo” e demonstrariam o caminho fechado da “reforma do quadro estatutário”.

No ámbito do soberanismo nom institucional, também o espaço juvenil está a fazer ouvir a sua voz nos últimos anos, nomeadamente através da rede de assembleias Mocidade pola Independência. Se bem esta estrutura nom fijo um pronunciamento oficial sobre a convocatória eleitoral, falamos com um dos seus membros, Anxo Lema, de Vedra, que tem a sua própria perspectiva individual sobre o que se avizinha. Anxo, que mora em Compostela, compagina a pesquisa universitária com umha bolsa de mestrado com a sua implicaçom na MpI. “Penso que se nos apresenta um momento muito interessante no plano social”, diz, “a pandemia do coronavírus vai trazer umha crise económica que nom se lhe escapa a ninguém”. O militante relaciona este feito com umha conflitividade nascente, que pode ter a sua expressom “em luitas como a de Alcoa, ou na resposta de rua à extrema direita de Vox”.

“Um governo autonómico que expulsasse Feijoo da Junta poderia ser muito interessante, por umha banda para tentar pôr soluçom rápida a questons que precisam dumha resposta imediata (por exemplo, o idioma), e pola outra para evidenciar as limitaçons da estratégia autonómica que leva o nacionalismo hegemónico desde há anos” (Anxo Lema)

Nestas coordenadas, que Anxo define “de emergência”, o activista é ciente da ausência, no plano institucional, dumha alternativa realmente independentista : “resulta-me bastante difícil de crer que, dentro das esferas do nacionalismo autonómico, siga a dar-se este debate, quando já no seu momento Castelao, um federalista convencido, assumiu a impossibilidade de federar-se com quem nom quer federar-se contigo, e portanto, a via independentista”.

Por outra banda, reconhece que “um governo autonómico que expulsasse Feijoo da Junta poderia ser muito interessante, por umha banda para tentar pôr soluçom rápida a questons que precisam dumha resposta imediata (por exemplo, o idioma), e pola outra para evidenciar as limitaçons da estratégia autonómica que leva o nacionalismo hegemónico desde há anos, ajudando a validar o discurso independentista como opçom real”.

Expectativas desde a base

Achegamo-nos também a falar com Dionísio Pereira, um veterano participante de movimentos sociais galegos de base, vencelhado desde há décadas com o soberanismo, e autor dumha importante obra de recuperaçom da memória histórica, especialmente focada na reconstruçom do movimento obreiro arrasado polo genocídio de 1936. Dionísio é outro dos observadores participantes deste processo eleitoral, que reconhece chave, embora desde um distanciamento aberto com a lógica institucional.

Dionísio mora na Terra de Montes e diz que, de alô, “a situaçom política do país vê-a contraditória, para variar. Dumha banda, o pessoal semelha ter uma percepçom de si próprio muito influída por quem nos mira desde fóra de jeito interesado: daquela, somos gente tranquila, moderada, céptica, individualista e que nada conta en Madrid. Doutra, uma radiografía crítica amossaria un país com alta conflitividade social e laboral; um país en transo de mudança, com amplas capas da populaçom que se decantam por ampliar (com distintas opçons) o actual regime autonómico e polas suas preferências republicanas”.

anarquismo, nacionalismo, colonialismo, Rif
Dionísio Pereira, em Vilar de Cerdedo no 2018.

“Um cenário institucional de transiçom com melhor relaçom de forças para o soberanismo galego, mesmo no governo autonómico, permitiria avanços em aspectos nom determinantes, mas que poderiam melhorar as condiçons de vida e trabalho, e também potenciar o próprio independentismo” (D. Pereira)

Pereira também tem claro o peso da luita cultural na nossa dinámica como sociedade, mas nom se fai ilusons no que a isto diz respeito: “a cultura é umha ferramenta necessária, mas nom suficiente. Penso que nom há mudança sem debate ideológico e sem luita social; em ambos os casos, as e os veteranos culturetas coma mim tenhem um papel humilde e secundário, mas que cumpre nom desprezar : acompanhar e arroupar a gente que confronta, correndo a mesma sorte. Para bem e para mal”.

Na hora de pôr o foco no processo eleitoral, Dionísio Pereira partilha o cepticismo expressado por outros agentes, mas se calhar ainda o intensifica: “um cenário institucional de transiçom com melhor relaçom de forças para o soberanismo galego, mesmo no governo autonómico, permitiria avanços em aspectos nom determinantes, mas que poderiam melhorar as condiçons de vida e trabalho, e também potenciar o próprio independentismo”.

Pereira, a seguir, esclarece quais seriam os limites, para ele evidentes: “porém, o devalo autoritário e centralista das forças políticas espanholas, somado à brutal asuteridade que a troika exigirá em meses vindouros, nom deixarám muita margem de manobra. Um derivado concreto do antes dito, que é o atual programa do BNG, resuta impossível de cumprir arestora em termos de gasto público e lealdade institucional. Em definitiva, os problemas primordiais da naçom galega só poderám ser enfrentados desde a plena soberania”.

Pereira aproveita esta cita eleitoral, na que confessa que votará polo BNG para abrir um novo cenário, para introduzir um elemento infrequente na análise: “paga a pena aproveitar a oportunidade para mudar um pouco a nossa endémica faciana derrotista, infumável no político mas também no estético”.

O ‘nom’ libertário

No país nom faltam abstencionistas, e como é evidente, topam a sua representaçom especialmente no movimento libertário. O Colectivo Amanhecer puido conversar também com Martinho, na actualidade secretário de organizaçom da CNT na Galiza. O anarquismo nom fai distingos e define “a totalidade da classe política do país” como movida “pola avidez de lucro indiscriminada mais vil, o desejo de dominaçom e o exercício de poder mais abjecto”.

Além de mostrar o seu rechaço à direita espanhola nas suas diferentes formas, qualifica o nacionalismo institucional “de insucesso de criaçom dum partido para a pequena burguesia galega”. De resto, considera a coaliçom de esquerdas derivada das mareas como “algo incompreensível”.

Agra do Orzán (A Corunha), julho 2020.

Martinho nom adere a nenhum optimismo ingénuo, e nem em fase eleitoral nem em plena crise vê grandes mostras de consciência popular: “o povo (e por povo eu so quero dizer classe trabalhadora) tem perdido a transbordante imaginaçom política e a sua capacidade de acçom instituinte que o caracterizou noutros momentos, para presenciar tranqüilamente até que ponto tem renunciado à solidariedade orgánica como forma relacional básica da sociedade para retirar-se a espaços virtuais ou a formas de acçom tam integradas que nem se reconhecem como formas mediadas do poder”.

Em consonáncia com o total desapego da política institucional, Martinho pom nulas expectativas no domingo 12, sejam quais forem os resultados: “Desde logo quem dê metido a gadoupa trás a porta do parlamentinho vai tirar um bom salário em A e uma série de coisas em B das que nom é conveniente falar. Entrar na roda dos interesses, as prebendas, os favores, as influências nom é pouco ganho, por certo. Ao invés, nom vejo que pode sair de bom para a classe trabalhadora galega. So há que ver o desastre que está provocando no estado espanhol a que se chama a si propria nova esquerda, tam semelhante à velha direita. Praticamente têm entregado o pouco que ficava por conquistar do sistema produtivo ao empresariado, mantêm inalterada a infame legislaçom laboral que chamam reforma e anunciam novas formas de escravatura moderna como a nova regulação do teletrabalho”.

“Desde logo quem dê metido a gadoupa trás a porta do parlamentinho vai tirar um bom salário em A e uma série de coisas em B das que nom é conveniente falar. Entrar na roda dos interesses, as prebendas, os favores, as influências nom é pouco ganho, por certo.” (Martinho, CNT)

O horizonte semelha escuro, e para Martinho nom há possibilidade de mudança que nom passe por aceitar da maneira mais crítica a realidade e começar a construir a nossa própria sociedade “desde a autonomia, a autodeterminaçom, a liberdade e a igualdade. Devemos assumir a nossa responsabilidade, esquecer a delegaçom e a servidom voluntária e assumir que a mudança sob pode vir de nós e sob pode fazer-se por nós”.

Um olhar galego e feminista

O feminismo tem-se convertido num agente social e político de grande dimensom na Galiza de hoje. Parte dele enquadra-se na lealdade nacional galega, e é esta perspectiva a que toma Arancha Nogueira, escritora e jornalista. Militante também do BNG, Arancha fai parte dessa base social do nacionalismo que, longe do que fai a direcçom, se declara independentista, além de esclarecer que “como outras muitas, é militante de diversas causas em diferentes contextos”. Considera preciso o nacionalismo “ter um pé no institucional, e também outro muito posto nesta Terra e neste país”, em contacto ‘com outros muitos activismos.’

Confiante no gradualismo, ainda que acredita na soberania plena da Galiza, Arancha vê-a muito afastada no horizonte: “nom acredito que se poida conseguir a independência a curto ou meio prazo, o que acho é que se necessita que se produza umha mudança política e institucional para dar passos na autonomia e soberania do nosso povo”, ainda tendo claro que estamos “dentro dum quadro em que se nos permite muito pouco ; por isso cumpre fazer pressom em todos os espaços para que a independência se consiga”, diz Nogueira.

A escritora é muito cauta na sua estimaçom eleitoral: “possivelmente o PP revalide a maioria absoluta, pois tem umha estrutura montada que vem de muito antes de Feijoo, remonta a Franco. Eles mesmos vam destruindo o país, fazendo que as pessoas que podemos mudá-lo lisquemos da Galiza, ou que fiquemos fora do sistema”.

Contodo, Arancha vê possibilidade de mudança se se parte da paciência: “seriam precisos muitos anos para se mudarem umha série de políticas que se levam a produzir décadas, cumpriria um voto de confiança, ao meu ver ao BNG, e que no médio prazo o governo revertesse esta situaçom”.

“Acho que das grandes crises sempre sai algo positivo”, conclui Arancha. Nestes meses “vimos a criaçom de redes de cuidados nos bairros, cuidados de vizinhas, famílias…um desdobramento contra-hegemónico de cuidados, de afeto, de agarimo. E com esses pulos, com esses aços, que estám entre a raiva polo acontecido e a ganha de mudá-lo todo, podemos superar a situaçom”.

Tríptico electoral

As eleições, em questão

TRÍPTICO ELEITORAL. Uma escolma de várias vozes, colectivas ou individuais, dessa Galiza que se move abaixo e à esquerda e observa, maioritariamente com interesse, o que irá acontecer no domingo.

Deixe um comentário

Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no google
Compartilhar no whatsapp
Compartilhar no email

Colectivo Amanhecer

Ourense, 1979. Licenciada en Ciencias da Comunicación e doutora en Filosofía e con estudios en arte contemporánea. Escribe sobre sistemas de representación e réximes de poder. Os ensaios filosóficos xiran, esencialmente, en torno aos modos de subxectivación e a obra máis literaria aposta pola deconstrución do suxeito-autor.

Deixe um comentário