Teima | independencia(s) – Capítulo 2

Que lhes doa o amor

César Caramês Branco

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no google
Google+
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp
Compartilhar no telegram
Telegram
Compartilhar no email
Email
Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no google
Compartilhar no whatsapp
Compartilhar no telegram
Compartilhar no email

Encontramo-nos no meio dumha mudança radical a nível planetário. Nada vai volver ser o mesmo quando remate esta primeira pandemia que dissimula o crack económico sentenciado já por infinidade de peritos antes da covid19. O Regime do 78 achou nas medidas especiais deste período umha vantagem contra a crise institucional que o devora, desde a monarquia até o último concelho ou julgado. Nesta tessitura, cumpre, nom só do independentismo, mas desde todo o movimento soberanista, umha reciclagem na análise e no discurso. O processo catalám demonstrou a impossibilidade dumha via institucionalista cara a independência nos marcos legais impostos. Por outra banda, a superaçom da estratégia da vanguarda armada, que nom da violência política, como método praticável na década de 2020 hoje resulta inquestionável. Assim, as duas vias para a liberaçom nacional ensaiadas no Estado espanhol após a chamada “Transición” manifestam-se claramente obsoletas.

Que o Estado responda coa mesma violência repressiva ante o desafio das instituiçons catalás que diante da luita armada basca, sinala bem às claras que nom se trata dumha questom de métodos, mas de objetivos políticos. O próprio regime está desenhado para a sua irreformabilidade, desde as circunscriçons eleitorais, que garantem o bipartidismo, até os requerimentos e maiorias parlamentares impossíveis para qualquer mínima mudança estrutural. Situar no centro, primar a estratégia eleitoralista a partir destas instituiçons anti-democráticas desde posturas arredistas, só pode conceber-se como candidez ou perversidade. Até a democracia cristá catalá experimentou isto em “próprias carnes”. Por isso, o laclausismo da facçom pontoniana da UPG tem o mesmo teito que tivo o espanhol de Podemos, ou o quintanismo precedente. E assim e todo, bendeitamos da visibilidade que lhe fornece a medra eleitoral do nacionalismo a qualquer narrativa independentista. Porém, jogar todo a estratégias de campanha e eleitoralismo liberal dependendo totalmente dumha imprensa, pública e privada, controlada cernelhamente polo adversário, resulta, quando menos, irresponsável.

Outramente, agarrar-se, románticos, à imagem da organizaçom armada dos 70 e 80 do século passado, como um bálsamo consolador, dá no mesmo fortalecimento do regime. A maquinaria repressiva, judiciária e mediática da monarquia borbónica está perfeitamente ajustada para a resposta automática contra ela. Mesmo nos tenta assimilar a esse esquema para agir com comodidade contra a dissidência. Pensar em reproduzir as práticas do IRA, do FLNC ou do EGPGC dos oitenta no mundo do 5G, com câmaras em satélites e ruas a espreitar-nos, nom parece mui inteligente. Os avances tecnológicos e a adaptaçom do Estado à estratégia da vanguarda armada viram-na impracticável hoje em dia. A estrutura repressiva do Estado espanhol evoluiu para fazer frente à acçom de ETA durante quase meio século. Por isso, qualquer pauta que permita umha identificaçom com umha organizaçom do seu tipo oferece-lhe ao Estado a escusa perfeita para a aplicaçom automática do seu protocolo anti-etarra. É mais, o discurso do entorno facilitou mesmo a chegada ao extremo da Operaçom Jaro e ao juízo farsa que estamos a presenciar estes dias. Por outra banda, a colocaçom de artefactos e a investigaçom e execuçom de inimigos, baixo umha estrutura piramidal, hoje também se manifesta inviável na Europa Ocidental. É um eido conhecido de vez polos aparatos de inteligência e policiais dos Estados. Isto nom significa a impossibilidade da violência política, apenas a invalidez da rigidez piramidal da vanguarda armada e o anacronismo dos métodos que se lhe associam. Porém, pretender que numha situaçom de conflito, que aginha há extremar as suas contradiçons mercê às crises que venhem, nom exista resposta violenta das agredidas -ainda que for desordenada- fica longe do realismo.

Boletíns de voto. Na cabeceira, manifestação a favor do estatuto da Galiza em Dezembro de 1977 em Vigo.

“Jogar todo a estratégias de campanha e eleitoralismo liberal dependendo totalmente dumha imprensa, pública e privada, controlada cernelhamente polo adversário, resulta, quando menos, irresponsável”

Qualquer estratégia que tencione a vitória deve assentar no reconhecimento do essencial e na flexibilidade absoluta quanto ao supérfluo. Por isso cumpre aprendermos das experiências recentes, especialmente da catalá, para volvermos desenhar umha nova folha de rota. Levamos quarenta anos sem executar umha atualizaçom séria do discurso e da estratégia soberanista e resulta mais que óbvia a sua necessidade nestes momentos. Aguardar a que algum dia governe o nacionalismo, graças a umha inesperada concomitância de fatores e ao bom trato da imprensa inimiga, leva a quatro décadas de fracasso. Pola mesma, falar de erguer um exército popular clandestino já só serve para rir nas conversas compostelanas.

“Levamos quarenta anos sem executar umha atualizaçom séria do discurso e da estratégia soberanista e resulta mais que óbvia a sua necessidade nestes momentos”

Endebém, nom existe umha receita mágica, velai o erro principal. A independência nom é um móvel do Ikea. Cumpre enxergarmos um horizonte de transformaçom comum e empregar todas as vias possíveis para construir na sua direçom. Acumulaçom de forças integrando toda discrepância co regime numha identidade nova que lhe dispute o domínio de territórios como “democracia”, “o público”, “os direitos básicos” ou o “bem-estar” num discurso contra-hegemónico. O projeto Galiza como um recipiente que apanhe a luita feminista, a de classe, a ecologista, a decolonial, a da vivenda, a assistencial, a sanitária, a trans… numha nova identidade plural, nom partidista, em continua construçom e máxima habitabilidade. A visom monopolizadora da naçom de qualquer seródia vanguarda classemedieira sobra aqui de vez. Precisamente, é o seu nacionalismo culturalista o que cumpre superar com um soberanismo popular abrangente se nos queremos desprender de todo resistencialismo derrotista e contraproducente.

Nesse sentido, a galeguidade como identidade histórica em continua pugna dialectica: afirmaçom diferenciada vs. folclorizaçom espanholista, fornece oportunidades pouco aproveitadas polo movimento libertador na história recente. Enxergar cada item folclórico ao que o espanholismo tenta reduzir a nossa reafirmaçom dessemelhante como umha cessom sua no canto dum fracasso nosso é chave. Para anularmos esses mecanismos de integraçom mediante os que incorpora a fasquia da nossa luita histórica ao seu relato co fim de eivar-nos, precisamos identificá-los e entendê-los. Aceitar a emotividade no discurso político canda a construçom popular e constante da identidade nacional, por riba da elaboraçom idealista do nacionalismo pequeno burguês das vanguardas, é fundamental. Nom é possível assentar um discurso contra-hegemónico sem cultura que o alimente em todas as suas manifestaçons, e ser maioritário implica aceitar formas de expressom nom dirigidas. É mais desejável aspirar a que se lhe cante à independência nas cançons das orquestras, no trap ou nos pubs, que degoirar que todo o país deveça por Nao ou Ezetaerre. O purismo galeguista que torce o buço diante da reivindicaçom própria politicamente incorrecta agocha no fundo o classismo mais colonial e autonomista. Heredeiros da Crus, Xil Rios, Ana Kiro, Os Diplomáticos e Sés figérom mais pola nossa supervivência como povo que todas as legions de poetas diletantes e minoritários que os condenam. Trata-se logo de aproveitar a emotividade do nosso discurso histórico, desfolclorizando os espaços que o inimigo tivo que ceder para enchermo-los de novo de nós como terreio conquistado.

“Nom é possível assentar um discurso contra-hegemónico sem cultura que o alimente em todas as suas manifestaçons, e ser maioritário implica aceitar formas de expressom nom dirigidas”

Essa cultura do novo que vem, do Estado paralelo que desloca o velho decadente, só se constroi mediante a organizaçom popular e o confronto, nom através da gestom do existente. Nom pode constituir-se institucionalidade alternativa que contrapor se nom se manifesta abertamente e com vocaçom realmente disruptiva. Tentar empregar a sua miragem como estratégia eleitoralista pode qualificar-se como cruel quando nom contraproducente. Desde a Revoluçom Francesa, cumprem assembleias nacionais constituintes para levantar repúblicas. A sua convivência temporária coa antiga administraçom pode resultar tam inevitável como necessária a submissom à nova representaçom popular do trabalho institucional dos rebeldes nela. Desde esta óptica, é o caminho cara ao horizonte de transformaçom comum -desde a materialidade do existente- o que valida o trabalho institucional, nom a gestom em si própria. A única maneira de sermos maioritários é renunciando a consegui-lo coas cartas marcadas do inimigo. Ou cada gesto, proposta e movimento serve para arrufar o discurso de ruptura, ou reforça o status quo. Isto aplica-se a qualquer cenário. O sindicalismo pactista e funcionarizado dá em assessorias semi-públicas no melhor dos casos. Os centros sociais desideologizados, em associaçons folclóricas. Todas reforçam a narrativa da democracia plural espanhola que permite a discrepância, esse é o calote da equidistância na totalidade narrativa do Estado-naçom.

Pola mesma, cumpre matar o esquerdismo identitário que abraia coa acumulaçom de símbolos e a profusom de palavras de ordem incompreensíveis para a vizinhança que as escuita. A interpretaçom da marginalidade como elitismo revolucionário, desejada e fomentada por Espanha contra nós e entre nós de mil maneiras. Nada há mais radical que avançar cara o objetivo que se enuncia, e isso só se consegue comunicando, emocionando e dando-lhe exemplo a quem discorda. Jamais mediante a formulaçom repetitiva da meta como panaceia ou mantra. No fundo, trata-se da reconquista da política organizada polas classes populares, de rachar co monopólio da classe média funcionarial, coas suas necessidades de identidade de grupo frente às básicas nossas. O despreço pola efetividade revolucionária nos discursos e nas práticas, a énfase nos símbolos frente ao saldo de aceptaçom popular, apresenta a marca inconfundível de quem nom padece nas carnes a duraçom da opressom. Quem sente dor nom perde o tempo anatemizando desde a pureza fingida, escuita, soma e ataca sem comodidades que perder.

“Nada há mais radical que avançar cara o objetivo que se enuncia, e isso só se consegue comunicando, emocionando e dando-lhe exemplo a quem discorda. Jamais mediante a formulaçom repetitiva da meta como panaceia ou mantra”

Topamo-nos com um ponto cruzial para o futuro do país e do mundo. Sairmos da excepcionalidade sanitária fortalecidas e clarificadas na pluralidade da dissidência vai ser fundamental. O que o regime decadente espanhol mais teme no nosso país é que demos arvorado a independência como única rutura possível contra toda a sua podrémia. É a potencialidade da ideia arredista, nom a sua realidade organizativa, o que o estarrece até o ponto de tentar disciplinar-nos com montagens como a Jaro. O pesadelo dum Nunca Mais separatista que se some ao ronsel do procés agocha-se trás cada acusaçom do fiscal da Audiencia Nacional e trás cada brado histriónico do juíz Guevara. Nesse sentido, a unidade anti-repressiva que demonstrou todo o espectro progressista galego, mália os esforços da imprensa do regime, sinala a ferida que lhes dói: sorrir-lhe, unidas, ao seu terror. E é que, como lhe cantava Sílvio Rodríguez ao imperialismo ianque no triunfo da revoluçom sandinista: “Nicaragua le duele, pues le duele el amor.”

Ourense, 27 de outubro.

Deixe um comentário

Deixe um comentário