Volta á terra?

"Umha crise feita de muitas crises" é uma pesquisa sobre o que está por vir partilhada por Galiza livre, Novas da Galiza e adiante.gal

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Coletivo Amanhecer, Novas da Galiza | maio de 2020.  Os efeitos da gestom da pandemia da covid19 chegarám em forma de crise económica e social. E, como em todas as crises, tudo indica que as suas consequências vam afetar especialmente os setores de populaçom mais precários e em situaçom de exclusom social. Na primeira fase de contençom da pandemia, com o objetivo de evitar o colapso sanitário, pugérom-se de relevo as graves consequências dos cortes na saúde pública. Agora, abre-se um panorama de incerteza perante umhas novas condiçons em que o ponto de partida som os problemas sociais já existentes nas sociedades capitalistas. Esta incerteza traduz-se numha falta de capacidade imediata para fazer prediçons, e marca também um ponto de encruzilhada. Abrem-se potencialidades -como a valorizaçom dos trabalhos essenciais ou a emergência de grupos de apoio mútuo-, mas também grandes riscos -como o piorar dos níveis de vida de amplas capas da populaçom ou a intensificaçom da tecnologia de controlo-.

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Capa do ‘Novas da Galiza’. Maio 2020. A imagem que ilustra esta primeira peça é de Charo Lopes.

A imagem que o nosso país, já massivamente urbano, tem do mundo rural mudou durante estas semanas decisivas. Ao igual que certos sectores da classe obreira ganhárom novo prestígio -limpadoras, caixeiras, enfermeiras-, também os labregos recebêrom pola primeira vez em muito tempo o reconhecimento da populaçom como garantes da substitência de todos. Além disso, a expansom do vírus associou- se inevitavelmente aos fenómenos capitalistas do turismo massivo, o contágio por simplificaçom de ecossistemas e à macro-urbanizaçom. Juntam-se todos os ingredientes para um novo olhar sobre o agro e a natureza. Voltaremos massivamente à terra? Falamos com sindicalistas agrários, ecologistas e decrescentistas, para enxergarmos o que vem aí.

Miguel Anxo Abraira fai parte da Rede Galega do Decrescimento, e é um dos activistas que leva anos a apontar o cenário de risco, também no sanitário, em que se adentra um mundo no limiar do colapso. Em conversa com o nosso meio manifesta que “a comunidade científica advertiu umha e outra vez que a combinaçom de mobilidade massiva, desfeita de ecossistemas e mudança climática vai transformar epidemias em pandemias. Tivemos os avisos do SARS1 e do MERS, e agora, com o Covid19, a natureza manda-nos outra séria advertência.” Abraira também vinca na responsabilidade dum modelo agro-industrial que foi apoiado sem fisuras pola casta política: “nom é por acaso que este vírus que hoje padecemos transmitiu-se através do pangolim, precisamente um animal com o que se estám a fazer provas na China para criá-lo em granxas extensivas.”

Perspectivas decrescentistas

Do ponto de vista decrescentista, o centro de gravidade dum modelo futuro, que puidesse garantir nom apenas o nosso bem estar, sem a nossa sobrevivência como espécie, está no rural e numha nova relaçom com a terra: “sempre fomos claros, e dixemos que cumpria ruralizar a sociedade; no que se inclui obviamente ruralizar as cidades, mas também ruralizar o próprio agro, que há muito tempo que se move em chaves industrialistas.” Para Abraira, apoiado em cientistas de prestígio como Antonio Turiel, o Covid é apenas umha das expressons dumha crise que será multidimensional: “obviamente nom podemos pronosticar prazos concretos, nom sabemos se vam ser cinco anos ou vintecinco: mas sem dúvida adentramo-nos na época da escasseza energética, de fenómenos climáticos descontrolados, e portanto de restriçons materiais e carestia. Cumpre preparar-se”. A pergunta, ainda que simplória, é obrigada: fai sentido ser optimista? “No curto prazo, eu nom som nada optimista. Penso que estamos apenas num parêntese, trás o qual volveremos ao dogma do crescimento. Por umha parte veremos os partidários do “green new deal”, que confiam numha soluçom tecnológica impossível, dada a falta de disponibilidade energética para implementar as mudanças, e um neoliberalismo que está decidido a queimar todos os recursos que restam no lucro imediato.” Ora, tarde ou cedo, quando crises como a presente golpeem de novo, “umha maioria da sociedade verá-se na obriga de replantejar a maneira como vivimos.”

“No curto prazo, eu nom som nada optimista. Penso que estamos apenas num parêntese, trás o qual volveremos ao dogma do crescimento.” (M. A. Abraira)

Precisamente a ideologia dominante na sociedade, a sua adesom ou rejeiçom dos programas produtivistas, é outro dos aspectos hoje em debate: “vimos o que aconteceu nestas semanas: umha boa parte das pessoas aplaudírom medidas de curte de direitos em nome da saúde, mas que estavam pensadas para um molde urbano, e mesmo aderírom a atitudes parapoliciais.” Segundo Abraira, isto explica-se pola “histéria” criada mediaticamente, e pola absoluta exclusom de alternativas dissidentes como a decrescentista: “nom existimos nos meios, as nossas opinions nom contam. Nem como análises globais, nem como propostas sectoriais. Nós dizemos, por exemplo, que esta crise demonstrou que esta sanidade pública nom é tam boa como cara; e que se podiam ensaiar modelos sanitários mais baseados na prevençom que no gasto farmacológico permanente.”

Na crise também está a oportunidade, e Abraira aponta elementos importantes para um possível futuro rural: “é de ter em conta a cantidade de gente que estas semanas, independentemente da sua visom política, se botou a plantar e a trabalhar as leiras, mesmo conservando o seu posto de trabalho assalariado. Ainda sem consciência política, muitas pessoas do nosso país mantenhem umha memória labrega e umha cultura de autosubsistência, o que é um grande património. Para o futuro, ter assegurado que podemos produzir os nossos alimentos, e que dispomos de energia quanto menos para quecer a casa, vai ser fundamental”.

Embora o tópico nos situa como um país de potente produçom agro-gadeira, Abraira esclarece que esta é umha verdade parcial: “si, temos monocultivos fortes como o leite, mas a gente desconhece que por volta do 50% dos alimentos que consumimos procede de fora da Galiza”.

Produtoras na encruzilhada

Na mesma linha se pronuncia Isabel Vilalba, labrega que compagina o trabalho na sua exploraçom com o sindicalismo nas fileiras do SLG: “eu nom me atrevo tampouco a fazer prediçons, mas si que percebo que nestes dias o nosso discurso em favor da soberania alimentária ganhou apoios. A gente viu a importáncia da produtora, mesmo para salvar situaçons de emergência como esta.”

Para Vilalba, até o momento a desejada recuperaçom do mundo agrário galego foi “umha odisseia”. E esclarece: “temos dous modelos: os que procurárom exploraçons muito capitalizadas, que rapidamente se endividárom e nom dérom seguido o ritmo produtivo que exige a grande indústria; ou o das pessoas reincorporadas ao rural com a ideia da produçom agroecológica, sempre obstaculizadas por umha normativa económica e higiénico-sanitária que fai muito difícil ir para a frente.”

Nestes dias, a direita espanhola demonstrou a sua absoluta desconsideraçom com o rural galego, ao proibir a celebraçom dos mercados locais, facilitando ainda mais a multiplicaçom de lucros das grandes áreas alimentárias; a decantaçom institucional contra o labrego parece evidente, e Vilalba chama a levar em conta a dimensom política: “está claro que sem umha viragem nas políticas temo-lo realmente difícil, polo que cumpre apostar por umha mudança. Ora, nós também temos claro que isto nom é possível sem um grande processo de auto-organizaçom popular, sem um movimento social amplo que pressione.”

“Cumpre apostar por umha mudança. Também temos claro que isto nom é possível sem um grande processo de auto-organizaçom popular” (I. Vilalba)

Num juízo global, Vilalba tem em conta reptos e potencialidades: “nós luitamos pola incorporaçom da gente nova ao agro, e parece abrir-se umha oportunidade. Ora, chamamos a ser muito cautas, a fazer as cousas com consciência da sua dificuldade, pois o rural exige muito conhecimento e muito trabalho. Se se assumem estas questons, de resto, o nosso país tem vantagens: um clima temperado, território de vocaçom agrária; e até mesmo temos umha rede de aldeias e paróquias que possibilitam aceder a vivenda barata e de qualidade, com o desfrute de espaços abertos que nestes dias tanto se botava de menos nas cidades.”

Bloqueios políticos

De decisons políticas, entre outras cousas, falamos com Joám Evans Pim, um militante ecologista que apostou também pola vida rural na paróquia de Frojám, em Lousame. Joám, um dos dinamizadores das Brigadas Deseucaliptizadoras, tem palavras muito rotundas para o que está a acontecer: “vivemos umha situaçom totalmente anormal. Para mim trata-se dumha espécie de golpe de Estado ou auto-golpe apoiado na coarctada da sanidade pública, que está a agir como o grande baluarte do benestarismo. À margem da problemática concreta do vírus, o que penso é que se executa um plano de limitaçom das liberdades que prepara umha volta à normalidade de sempre, no sentido da mentalidade urbana e industrialista.”

Joám nom tem dados que permitam um especial optimismo: “nom, nom podo dizer que vam mudar cousas substanciais. Home, si sei que em sectores minoritários da sociedade há umha querência pola volta ao rural, isto acontece desde há anos. E quiçá neste Estado policial, pois pessoas que já tinham esta orientaçom aceleram a decisom de vir para a aldeia. Por exemplo, como evidência anedótica, direi-che que nestas semanas recebemos muitas mensagens de pessoas decididas a comprometer-se com as Brigadas Deseucaliptizadoras. Mas eu nom me atrevo a dizer que isto é um ponto de inflexom.”

Há umha década, Joám Evans participou do Partido da Terra, umha proposta explícita de combinar galeguismo com ruralismo e decrescimento, que esmoreceu pola cárrega organizativa que supunha: “nós há anos que tentamos combinar a volta ao rural com a democracia directa de base paroquial, e aquelas ideias, que ainda que nom eram exactamente as mesmas, coincidiam no tempo com o 15M, tivérom o seu alcanço. Logo perdêrom fôlegos pola crise, a profissionalizaçom da política. Mas penso que tenhem plena actualidade, e que o debate político popular tem que resgatá-las. Eu o que espero é que a partir de agora nom se deixe a questom da crise e do vírus exclusivamente em maos de especialistas e políticos: cumpre que intervenha a sociedade civil, e ante o que se avizinha, nom só para falar do rural: também de modelo sanitário, de direitos, ou de desobediência.”

“À margem da problemática concreta do vírus, o que penso é que se executa um plano de limitaçom das liberdades que prepara umha volta à normalidade de sempre, no sentido da mentalidade urbana e industrialista.” (J. Evans)

Mobilidade e aceleraçom. Que futuro?

Mas a terra, além de espaço rural e produtivo, é também natureza. O confinamento tem provocado em nom poucas pessoas umha certa saudade do meio natural e da vida nom urbanizada. A um tempo, imagens como as da turistizada Compostela livre de multidons, ou a dos javalis ou corços a entrarem nas cidades, levou nestes tempos de reflexom forçada a pôr em causa a ortodoxia dos deslocamentos massivos, da motorizaçom ou do lazer monetarizado. Falamos também com Antom Lôpez-Valeiras, membro da Agrupaçom de Montanha Augas Limpas. Desde a sua fundaçom há quinze anos, este colectivo ecologista tem sido umha voz quase em solitário a clamar contra o turismo industrializado ou as viagens de longa distáncia. Antom está convencido de que a reflexom, ainda em sectores minoritários, vai impor-se: “No que nos toca desde o montanhismo ou o ecologismo devemos procurar quais som essas oportunidades e pular nelas. Quanta gente experimentará a estranheza de levar dous meses sem usar o carro quando antes deitava duas ou tres horas ao dia entrampado nele? Quantas das pessoas que ateigam as zonas de passeio nas redondezas das vilas e cidades, no restrito horário permitido, antes nem tinham tempo para isso?”

Em certa medida, até a imprensa comercial reconhece que algumha cousa mudará na actividade turística, desde que limitaçons legais, carências económicas e medo a contágios podem reduzir notavelmente a procura de destinos exóticos. O reencontro com a terra mais cercana, nem que for o fim de semana, pode ser umha soluçom apetecível: “e nom descartamos que conhecer esta terra leve a amá-la e defendê-la”, conclui Valeiras.

 

PRÓXIMA ENTREGA (amanhã, quarta-feira): “Todos os direitos em questom”

Tambén no Galiza livre.

 

As autoras

Coletivo Amanhecer

Coletivo Amanhecer

Desde hoxe e durante os próximos días publicaremos en oito entregas unha ampliación da reportaxe conxunta Umha crise feita de muitas crises que difunde este mes Novas da Galiza en acordo con Galiza livre e adiante.gal (que pola nosa banda botamos andar unha colaboración como Coletivo Amanhecer).

Umha crise, muitas crises

#covid19

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